domingo, 30 de outubro de 2011

Salvando vidas, resgatando sonhos




Hoje eu peço licença aos atleticanos, pois o texto não será direcionado à torcida, mas sim aos jogadores, aqueles que decidirão nosso destino nos próximos dias. Não tivemos um ano bom em 2011, com atritos em Bh, Sete Lagoas, Ipatinga e até mesmo em outros estados. Alguns de vocês não faziam parte desse grupo no início do ano, mas quem esteve no encontro entre jogadores e torcida, onde toneladas foram arrecadadas para as vítimas das enchentes, jamais imaginaria que veríamos as cenas de desavença na porta dos estádios, centro de treinamento e hotel. Procuro traduzir nas próximas linhas o que realmente aconteceu e para isso uso uma metáfora para facilitar a compreensão.


Imaginem alguém que vocês realmente amam, como um parente, alguém que justifica a vida de cada um e que num momento de doença é levado às pressas a um hospital. Você se apresenta, fala do estado dele e senta para aguardar o atendimento médico. O tempo vai passando sem que ninguém faça nada, médicos entram e saem do local sem olharem para o lado, enquanto a febre aumenta. Aquela pessoa em seus braços é sua vida e você não cogita a ideia de perdê-la. Em um momento de desespero, se levanta, vai até a portaria e bate na mesa, aumenta o tom da voz com a atendente, diz que nenhum daqueles médicos está trabalhando, que estão de braços cruzados. Quando empurra a porta, adentra o local e encontra toda a equipe médica se esforçando para salvar outra vida em estado grave. Você não imaginava o que se passava lá dentro e só agiu daquela maneira para salvar a vida daquilo que mais ama. Outro médico chega e atende o enfermo, lhe medica e quando ele apresenta uma melhora, tudo aquilo que você imaginou sobre os médicos cai por terra, você cria uma admiração por aquele profissional que se estenderá por toda a vida.


Assim foi o Galo em 2011. Chegamos com um time ferido da temporada passada e cada um que desembarcou aqui sabia dessa situação. Começaram os jogos e, mês após mês, vimos um cenário cada vez pior. Diferentes profissionais entravam e saíam, mas o problema não era resolvido e o pior estava por vir. Entendo o lado profissional de cada um e sei que a rotina de viagens, mudanças e treinos impedem que vocês conheçam o time mais a fundo. Eu lhes digo, pois morei em diferentes cidades e visitei desde os bairros mais nobres até barracos onde famílias dividiam um só quarto. O Atlético é capaz de gerar uma paixão indescritível em todos esses grupos, da mesma forma, causando o mesmo impacto. Milhões de pessoas acordam imaginando se aquele é o início de um novo tempo, esperam o momento do gol durante toda a semana e essa camisa alvinegra justifica o dia a dia de todos. Assim como o carinho de um pai e filho, todos querem o bem do Atlético e se esse precisa de atendimento e não encontra, a paixão dá espaço à loucura e o instinto de defendê-lo fala mais alto.


Não sabemos o que acontecia dentro das paredes da Cidade do Galo, por isso cobramos de uma forma que chamasse a atenção de vocês, os médicos. Talvez estivessem atendendo a problemas maiores em seus lares, passando por tribulações e dificuldades que a vida proporciona sem escolher o jogador ou o torcedor. Não sabemos se foi esse nosso grito de desespero que funcionou e provavelmente nunca teremos essa resposta, mas os batimentos cardíacos voltaram e a luta pela vida recomeçou. Hoje vocês entram em campo fazendo o impossível para salvar aquilo que mais amamos – o Atlético – e independente do que aconteceu, somos gratos por esse respeito à nossa camisa. Assim como aquele médico que percebeu o ente querido necessitando de um atendimento e o salvou, esperamos que vocês salvem nossa história centenária, jogando com o que mais valorizamos, raça e amor.


As cicatrizes dos piores momentos ficarão, mas hoje eu lhes digo que entrem como médicos dispostos a escrever novas páginas e reconquistar a todos. A juventude talvez impeça a compreensão de tudo que aqui foi dito, mas um dia a velhice chegará e o corpo não terá forças para provar de tudo que as cifras oferecem, mas o sorriso plantado hoje ainda dará frutos e sempre terá uma mão estendida em sua direção a lhe dizer – Conte comigo, afinal foi você quem salvou aquilo que mais amo. O Clube Atlético Mineiro.