quarta-feira, 23 de março de 2011

Atraso em obra no Independência deixa times sem campo e vizinhos sem diversão

Sylvio Coutinho/Divulgação
Governo mineiro promete entregar a obra do Independência no final deste ano
Gritos de torcedores que ecoavam do estádio Raimundo Sampaio, mais conhecido como Independência, deram lugar ao som de máquinas e tratores que trabalham no local para transformá-lo em moderna arena multiuso. O estádio, localizado no Horto, tradicional bairro residencial da zona leste de Belo Horizonte, começou a ser reconstruído em 22 de janeiro de 2010 e ainda não tem data definida para ser reinaugurado. A obra sofreu atrasos, obrigando os vizinhos a conviverem mais tempo do que o esperado com transtornos, como poeira e barulho, além de trincas em algumas casas e limitações no trânsito.


As chuvas, necessidade de mais detalhes no projeto e demora no repasse dos recursos federais foram os motivos da alteração do prazo de entrega da obra mais de uma vez, segundo informações da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo em Minas Gerais, por meio de sua assessoria de comunicação. Não são somente os vizinhos os prejudicados com o não cumprimento do cronograma, Atlético-MG, Cruzeiro e América-MG estão sem um estádio em Belo Horizonte para mandarem seus jogos, desde junho do ano passado, quando o Mineirão foi fechado para a reforma visando a Copa de 2014.
  • Guyanne Araújo/UOL Esporte
    Em função de o Governo Federal só ter disponibilizado, até o momento, R$ 1,8 milhão dos R$ 30 milhões prometidos, o Governo de Minas se viu obrigado a investir R$ 2 milhões a mais do que os R$ 20 milhões inicialmente previstos. A informação é da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo em Minas Gerais, por meio de sua assessoria de comunicação, acrescentando que a Caixa Econômica Federal está finalizando as análises do projeto de modernização do Independência para a liberação do restante dos recursos. O Independência pertence ao América, mas está cedido legalmente para o Governo de Minas, por vinte anos. O Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da FIFA (COL) realizou vistorias nas obras do estádio no dia 7 de fevereiro deste ano e teve acesso ao projeto no novo local. A ideia é que o Independência seja um Campo Oficial de Treinamento (COT) para a Copa das Confederações e Copa do Mundo.
A data inicial para a entrega da obra era setembro de 2010, a tempo de Cruzeiro e Atlético disputarem a reta final do Brasileirão no Independência, o mesmo acontecendo com o América-MG na Série B. Não foi o que aconteceu. A data foi alterada em maio para 30 de outubro e depois para novembro. Posteriormente, houve outro adiamento para o final do primeiro semestre de 2011. Governo de Minas, no entanto, já mudou a sua previsão mais uma vez, garantindo que o estádio estará pronto até o fim deste ano, em condições, portanto, de ser utilizado no Mineiro de 2012.
Integrante do Conselho de Administração do América-MG, Marcus Salum, diz que pelo andamento da obra tem a fir
me convicção de jogar em casa a primeira partida do campeonato Mineiro de 2012. “Olhando, tenho palpite de que temos plenas condições de jogar no Independência”, afirmou. Ele acrescenta que o clube acumula prejuízos para mandar os jogos fora de Belo Horizonte. “Em Sete Lagoas pago para jogar lá R$ 15 mil por jogo. E o Independência fechado gera ainda mais prejuízo, porque Atlético e Cruzeiro não jogando lá, não tem o aluguel”, salientou o dirigente americano.
Ao invés de ruas lotadas de carros e torcedores em dias de jogos, cenário registrado no antigo Independência, pela falta de estacionamento, o entorno do tradicional ‘Campo do Sete’, como era chamado em referência ao seu antigo proprietário, o clube de futebol Sete de Setembro, teve algumas mudanças sendo permitido o acesso em parte delas para trânsito local, bem como mudanças de mão direção em outras vias. Os vizinhos do estádio dividem opiniões em relação às obras, mas aguardam ansiosos pelo seu término.

INDEPENDÊNCIA EM NÚMEROS

Capacidade:25 mil assentos cobertos
Estacionamento:500 vagas
Portões de acesso/guichês/catracas:5/35/50
Lanchonetes/lojas:27/7
Cabines de imprensa:14
Camarotes:24
Elevadores:3
Hermínia de Araújo é uma dessas pessoas. Morando na mesma rua, Pitangui, desde que nasceu, há 72 anos, ela viu o campo começar a ser construído e sempre acompanhou tudo de perto. “Participei dos jogos da Copa de 50. Aqui já teve jogo que o Mineirão não teve. A rua ficava toda colorida”, afirmou. Ela lamenta que com a chegada da violência, o estádio deixou de ser uma opção para ir com a família e espera que essa situação mude depois da reforma, para poder voltar a assistir aos jogos.
Para a moradora, as obras da reforma foram muito prejudicadas pelas chuvas. “Agora já está bem adiantado. O pessoal da engenharia garantiu as obras prontas até o fim do ano”, observou. Ela diz que os responsáveis pela obra sempre fazem reuniões com a comunidade para explicar o andamento da obra. “Por aqui ninguém reclama. Temos que controlar para ter o estádio pronto. Os vizinhos se contentam, porque é benefício para a população também. Depois da tempestade, vem a bonança”, salientou Hermínia, mostrando com orgulho os recortes de jornais que ela guarda sobre o estádio.
“Espero que os nossos (futura geração) tenham grandes prazeres aqui. Para apoderar da alegria que a gente está vendo ser construído aqui hoje”, refletiu. Já Caster Simões, outro vizinho do estádio, mora na Rua Pitangui, há somente um ano e meio e já tem mais tempo morando ao lado de uma obra do que num campo de futebol. “Já teve época que a gente acordava junto com o barulho do início das obras. Eles começavam 4h30, 5h30 e eram o nosso alarme”, lembrou.
Não basta ser bonito, os moradores cobram um espaço de lazer para usufruir o estádio. Eu gosto de futebol, mas e quem não gosta. Esperamos que lembrem de nós
Paulo César Gusmão, vizinho do estádio
Mas recordações boas também ficaram. “Mudei para cá no final de 2009 e pude ver o jogo da final da Série C em que o América venceu o Asa e subiu para a série B”, contou, empolgado. Sobre após o término das obras, o morador considera que vai ser atrativo e que o bairro deve valorizar, mas a única preocupação é com a segurança. “O bairro não tem estrutura, segurança. Os quarteirões aqui não são iguais aos do Mineirão. Em dias de jogos pesados, não vamos ter paz. Morar perto tem a vantagem de ir ao jogo do time, mas temo pela segurança dos vizinhos”, avaliou.
Outra residente na mesma rua, Marisa Moreira, que mora em frente ao Independência, conta que vai precisar mudar de casa. Ela alega que obras em geral levam um desconforto. “Toda obra que fica para toda a vida sempre gera um impacto. Disseram que ia ser uma reforma, mas está sendo uma reconstrução”, enfatiza. Marisa conta que é inquilina e a casa onde mora é antiga e já tinha algumas rachaduras. “Com as obras, as rachaduras aumentaram. No local começou a ter infiltração e mofo”, lamentou. Ela informou que terá três meses para sair da casa a pedido da imobiliária para permitir ao proprietário reformá-la.
Já Cenira Moreira Silva que mora há quase 30 anos em uma rua no entorno do estádio, diz estar arrasada com os prejuízos que a obra tem deixado em sua moradia. No oratório de sua casa ela reza todos os dias para que nada de mais grave aconteça a ela, sua filha e netas. “Eu deito na cama para descansar e a casa treme toda. A telha solta e a chuva entra na casa e isso é o mínimo”, relata.
  • GUYANNE ARAÚJO/UOL ESPORTE
    Vizinhos do Independência acompanham o andamento das obras da janela do apartamento

Ela garante que mais trincas apareceram na sua casa e que o teto está ameaçado. “Não tem laje, é de gesso e ele trincou todo e está caindo. O engenheiro veio, olhou e marcou as rachaduras, mas ainda não deu uma resposta. Quero ter uma velhice com sossego e não assim”, desabafou. Cenira comenta que morava sozinha antes das obras, mas devido ao estresse pela reforma do estádio. sua filha ficou preocupada e foi morar com ela.  “Estou vivendo a base de remédios, minha casa está toda abalada, nunca a vi desse jeito”, lamentou.
Motivo de piada
José Álvares de Freitas que mora na segunda rua paralela ao estádio e sempre foi vizinho ao estádio desde que nasceu, há 66 anos, revela que a demora na entrega da obra, virou motivo de piada. “Se não fosse trágico, seria cômico. Estão dizendo que o Japão vai ser reconstruído, após a tragédia, primeiro que o estádio”, contou. Segundo ele, a morosidade interfere na tranquilidade das pessoas. “Algumas ruas foram interditadas, às vezes erro e entro na contra-mão de uma rua que mudou a direção. Nosso sonho é ver o final da obra”, comentou. 
Paulo César Gusmão Alves mora há oito anos em frente à entrada do estádio pela Rua Pitangui e não se incomoda com a obra. “Está tranquilo, estou esperando ficar pronto. Falaram que ia ficar pronto no ano passado, mas por conta da liberação na Caixa Econômica, atrasou. Esperamos que fique pronto até o fim do ano, estou aguardando com ansiedade”, destacou.
  • América-MG/Divulgação
    Marcus Salum (de camisa lisa) diz que visita a obra a cada 15 dias para verificar o seu andamento
Quem também diz não ter nada a reclamar das obras é Romeu Lopes de Oliveira, que desde 1967 mora na rua atrás do estádio. “Tem impacto, mas não é muito não. Antes eles vieram e olharam as casas e vão acompanhando”, explicou. Ele conta que a poeira era muita, mas que agora tem diminuindo e que o barulho já não atrapalha. “Gosto de futebol e quero ver pronto logo”, destacou.
Para Rosana Caetano de Faria basta chegar à janela do apartamento, situado a esquina da Rua Córrego da Mata com Ismênia Tunis para assistir aos jogos de camarote. “Brinco com as pessoas que não preciso pagar para ir ao estádio, eu cobro pela vista”, contou, aos risos. Moradora desde 2000 ela comenta que já foi assistir jogos no estádio e que também já viu de sua própria casa. Rosana diz que o barulho e poeira incomodam, mas já percebe melhorias como valorização do entorno.
Acompanhamento americano
Até o momento, já foram executados o trabalho de fundação das três arquibancadas e dos prédios 1 e 2 das ruas Ismênia Tunis e Pitangui e estão sendo colocados os pré-moldados das duas torres de trabalhos e posteriormente os das arquibancadas. Além disso, continuam as obras de montagem da estrutura pré-fabricada do estádio.
Marcus Salum diz que tem se reunido com Sérgio Barroso da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo nesses dias, para mobilizar a criação de uma comissão do América que acompanhe tecnicamente as obras. “Temos muito interesse e queremos ajudar também. Sabemos da competência da secretaria que cuida da obra, mas também queremos ajudar”, revelou.
O dirigente americano informa que tem acompanhado as obras no estádio de perto fazendo visitas quinzenalmente. “Não tenho a gerência das obras, mas como somos os usuários finais, ficamos preocupados para que ele seja adaptado ao Futebol”, salientou.

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